Lucidez
MARCELO ROCHA - Besourobox
SINOPSE
Foi Foucault quem ajudou a pensar no Lucidez. Em História da Loucura, uma das imagens referidas pelo escritor francês, no capítulo Stultifera Navis, é a da perturbadora pintura do holandês Hieronymus Bosch, La Nef des fous (de 1503 ou 1504). A obra mostra, também, um objeto que se tornara comum na Renascença: o barco dos loucos. Escorraçados das cidades, os loucos eram entregues a mercadores ou marinheiros, tornando-se, então, prisioneiros de um curioso lugar de passagem: o rio ou mar de mil caminhos. Assim, as águas (unindo os sentidos de purificação e mistério) e a loucura ligavam-se, de maneira simbólica, ao imaginário do europeu. A ideia da nau dos insensatos é recorrente na representação artística. No final do século XV, Sebastian Brant publicou um opúsculo com versos em alemão (Das Narrenschiff) e um inventário detalhado das loucuras e pecados da época, que iam do jogo ao adultério. Na primeira imagem do livro de Brant, logo depois do frontispício, aparecia a figura do louco dos livros. Um homem com um gorro esquisito que, em sua mão direita, segurava um espanador e, na esquerda, um livro, que folheava com atenção. Atrás dos óculos grossos, a imagem do intelectual como um parvo, ilustração que representa o indivíduo mais afeito às páginas dos livros em detrimento do mundo real. O louco dos livros, portanto, estaria em permanente conflito com o que o rodeia. O louco é o eterno deslocado; o louco é sempre o outro.
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